quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Húmus

 




Chora, criança pequena, chora. Verte em lágrimas a vida vencida, dia após dia, ano apos ano. Derrama para a corrente que tudo lava a fragilidade mascarada, as tuas pegadas solitárias na incerteza do caminho. 

Chora, criança pequena, chora esse desamparo de outras vidas, toda a instabilidade das marés. 

Chora, criança pequena, chora. Desaba, estende a mão num apelo. 

E então, faz-te húmus. Recria-te.











domingo, 10 de setembro de 2023

Tragam-me

 




Tragam-me histórias que me alimentem a esperança, que me façam crer que a vida ainda vai a tempo, que a alma é o meu Ser maior, que o caminho se faz todos os dias, que, embora pareça que os dias se repetem, me levam para onde eu serei mais Eu e livre, livre na verdade, livre dos preconceitos, livre dos julgamentos, livre dos parâmetros dos outros, livre nas minhas escolhas, livre nos meus passos.

Tragam-me histórias que façam o meu coração crescer e o meu ser respirar a Alegria.

Tragam-me histórias de esperança, histórias que não limitem a vida em tempo, mas num continuo de união com tudo, num 'eu cresço e tudo cresce comigo', e todos os dias cresço, para o Bem, para o Propósito Maior.

Tragam-me histórias de simplicidade, histórias de superação. Porque eu evoluo com tudo o que se manifesta em Amor .

Falem-me da essência da vida, da intemporalidade, do divino em nós, do que perdura. 

Tragam-me histórias de fé. 




sexta-feira, 25 de agosto de 2023

linhas tortas

 




que ninguém diga que não precisa de ninguém

ouço a mulher com um braço engessado dizer na mesa do café, acompanhada por um homem mais novo e uma mulher mais velha.

uma pedra solta na calçada do passeio e a vida toda de pernas para o ar, conta, substituindo o café cheio por um carioca de limão. naquele segundo, todo o passado, o presente e a incerteza do futuro, de repente numa vertigem, que ficou. 

eu, que todos os dias peço autonomia, fico a pensar nos porquês desta vida, de como deus por linhas tão tortas nos torna tão frágeis.




quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Regresso

 



Ainda na cama, esperguiço-me, coço o tornozelo esquerdo com o pé direito, e, sorrindo, penso 'o pipoco voltou... que bom...'



quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Das listas 1

 



Aqui está, meia dúzia de propósitos:

1 - pelo menos 3 vezes por semana aumentar 5 minutos à minha caminhada

2 - ter uma mochila preparada para quando me apetecer pôr-me ao fresco ou a caminho de nada

3 - um fino no castro de São Paio

4 - uma tarde na lagoa de Esturranha

5 - sossegar na abadia de Saint Michel

6 - fazer listas de desejos






terça-feira, 8 de agosto de 2023

Das listas

 






Às vezes só precisamos de quem nos faça olhar para dentro de nós. E depois aquietar.

Foi quando comecei a fazer a lista que a SisterTeacher me sugeriu sobre os tópicos a abordar, que me começou a sair o peso que há dias carrego na aura. A cura a fazer-se espontaneamente. 

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Olha SisterTeacher, as coisas que me inquietam:

- O caminho espiritual 

- Se estou a cumprir o propósito da minha alma 

- A vida profissional - como posso melhorar ao nível da auto realização 

- A minha relação com o dinheiro 

- A vida amorosa - já resgatei algum karma mas ainda falta não sei o quê

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domingo, 6 de agosto de 2023

Do dia

 



O burburinho das folhas. O recolher das andorinhas. A brisa fresca pela porta. O regresso. 

Mais importante do que o descanso, é quebrar a rotina. Mais duradouro do que o tempo, é a qualidade do momento. 




quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Cedência

 



Sem razão, para mim, aparente, a mulher cede-me o seu lugar no balcão da cafetaria, para que eu seja atendida à sua frente.

Agradeço recusando, dizendo que ela tinha a mãe à espera e que eu não tinha pressa. Insistiu, trocou de lugar comigo, e eu lá fui aceitando aqueles minutos de avanço que me oferecia.

Não sei se foi pelos meus cabelos brancos, se transparecia cansaço, mas foi a primeira vez que me cederam lugar, deixando-me nesta cogitação, entre surpresa, receio e gratidão...




quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Prognósticos

 




A mulher falava, falava, falava, que o médico lhe tinha assegurado que casos de x, y e z eram sentenças de morte, de certeza. Falava, sem querer saber se atingia quem a ouvia, falava...

O médico não lhe devia ter dito isso. Façam-se diagnósticos, mas não prognósticos. Muitas vezes o que mata uma pessoa é falta de esperança... e há milagres, e o corpo de repente faz um reset e há remissões espontâneas...

Disse eu e metade pensei...
A mulher falava de outra, mas o que dizia podia atingir qualquer pessoa que a ouvisse, ali no café. E enquanto se afastava, garantia, se um dia for comigo, é sentença de morte!
E eu que sei da força do pensamento,  a desejar que ela trocasse a morbidez por orações, por desejos sinceros de melhoras, por luz e emoções boas que envolvessem a outra.
Porque, forasteiro,  o pensamento é energia,  e a energia chega até onde for a nossa atenção, e o que eu pensar de si, para si, sobre si, irá cobri-lo, aconchegá-lo, quiçá,  curar... 
sabe quando de repente desce sobre nós uma acalmia que não se sabe de onde veio? É isso, forasteiro... 




terça-feira, 1 de agosto de 2023

Dedicação

 



Faço-lhe o chá - curcuma, gengibre,  canela, cravinho, pimenta, limão e mel -, troco a roupa da sua cama por lençóis brancos e frescos, meço a temperatura com os lábios e telefono ao médico. Cinco minutos depois o homem-menino, que tinha perdido a voz e não conseguia engolir, fala, come e bebe. A robustez enfraquecida do homem face à dedicação de uma mãe. Por vezes o nosso corpo implora dedicação.  

O meu, pede para ser servido, que façam por ele.