terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

despreparada









o pisco saltita debaixo da mesa da varanda, olhando cá para dentro. está frio. tenho as mãos geladas enquanto escrevo isto. a mulher que varre os passeios assegura-me de que eu fui pássaro noutra encarnação. deve ter reparado na quantidade de aves que aguardam que eu assome à varanda logo de manhã, para de seguida tomarem o pequeno-almoço às minhas custas.

a mulher que dizem que carrega uma doença diz que as dores são muitas e várias. eu insisto com ela para que tome um analgésico, mas ela teima que tem que entender o que a doença lhe veio mostrar, para que não se torne a repetir. enquanto isso calcorreamos a marginal. a noite está boa, e a maresia é a carícia que precisava. as pessoas admiram-se por eu ouvir a mulher doente, mas eu não consigo deixar de a ouvir e sei que a doença se alivia nas palavras faladas.

hoje o frio apanhou-me por dentro e não consigo encontrar palavras de amor.















10 comentários:

  1. tu és o analgésico que a mulher precisa, ana bonita.

    aqui está a nevar.

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    1. quem me dera, menina bonita.
      aqui está frio por dentro.
      beijo-te estrelas

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    2. é pá, ana bonita, eu vou já ali num instantinho buscar um aquecedor, 'tá? :)) (não ligues, às vezes sou um bocadinho parvinha)

      mas gosto muito de ti, sabes? beijo-te.

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  2. Fazes bem ana, a mulher fica feliz quando a ouves, talvez tenha menos dores até :)
    Beijinho

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    1. A mulher precisa de ser ouvida, Maria. Talvez todos precisemos e por isso escrevemos.
      Beijinho :)

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