terça-feira, 2 de agosto de 2016

coceira













a manhã cheira a manjericão e a relva cortada. as árvores estão de folhas caladas, como se aguardassem pacientemente a chegada de algo. a mulher pensa em tudo o que podia ser e na vida que se esfuma e nos verões que rejeita. ouve com indiferença o homem do outro lado do telefone, que lhe diz que o dia começará melhor porque ouviu logo de manhã a sua voz e que isso lhe traz a força anímica que precisa para enfrentar o dia. 
coça-se. sabe que não deve mas coça aquela mancha que lhe apareceu, desta vez na perna. 
a vida é tão absurda, pensa. tão absurda. 
na véspera, o médico interrompeu a consulta para lhe dar um abraço. falavam de espírito e carne, de sexo e sentimento. ela ali com as ideias tão direitinhas a saírem da boca para fora, e naquele momento, com o sol a amornar-lhe os pés, o cheiro a manjericão e relva cortada, acha tudo um absurdo, a sua vida, um absurdo.
veste-se, perfuma-se e sai para a rua. a serenidade em pessoa.













9 comentários:

  1. já foste e nem tive tempo de cheirar a erva...

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  2. Um texto que emana serenidade, apesar de um ligeiro travo de amargura.
    Boa e serena semana, ana.
    Bjs

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  3. boa semana, deep. com a serenidade que precisas :)

    beijo

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  4. Hoje comento com MÚSICA, pode ser? É que me lembrei do Rui Veloso...

    Beijinhos sem cócegas
    (^^)

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  5. e como eu gosto dessa música! :)
    obrigada!
    beijo

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  6. Não sabia sequer se a conhecerias...
    Fiquei feliz por saber que gostas. É uma das minhas favoritas do álbum "Ar de Rock"!
    :)

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  7. vai dando notícias... daquelas que nã enchem noticiários ou páginas, mas que falam do céu e dos pássaros, e das coisas que ninguém vê. sim?

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  8. sim, Manuel. claro que sim. embora tu vejas...
    eu tenho uma maneira de ir sem sair daqui :)

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