Nao, isto não é um exercício de escrita. É uma negociação com aquilo que tolhe a vida de uma pessoa.
Um medo por dia. Propôs-se escrever um medo por dia, descreve-lo, negociar com ele, apazigua-lo, faze-lo seu aliado. Claro que para isso precisaria de aprender a sua linguagem, decifrar as suas manhas, reconhecer os seus disfarces, a forma como incorporava nela mascarado de protecção. Sentir-lhe o cheiro.
Já sentiu o cheiro do medo? Ela já. Aquele fedor putrefacto a morte.
E um dia vem como conforto, o ninho onde se recolhe, onde nem a si mesma encara.
E um dia vem como o certo, o permanente, o não vá o diabo tecê-las, e fica naquele tédio morno sem ondas, sem riscos, sem sal.
E um dia vem como saúde e há que salvaguardá-la, e não esforça o coração, e não sobrecarrega a visicula, tem cautela com os intestinos, tem cuidado com as tensões, e fica a canjas e peixe cozido.
E um dia vem como serenidade, e recusa a paixão, desacredita do amor, recusa os turbilhões.
O que lhe quero dizer, forasteiro, é que tenho perdido muitos pores de sol.
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