quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Das catacumbas



Aqui nas catacumbas de bordo, não sei se é a rede em que descanso que balança, ou se a garrafa de rum que se entornou, sem que me apercebesse, nas minhas goelas.... ou o cansaço, como palra o papagaio armado em grilo falante feito um megafone junto ao meu ouvido. Enquanto grila, aponta a asa aos sinais impacientes do meu corpo, que eu trago bem domesticado, salvo um motim ou outro (e outro e outro e outro...).

Entretanto, as ondas do oceano devolveram-me sem resposta todas as mensagens que atarraxei dentro das velhas garrafas (e tantas mensagens acima, ou abaixo, comprovam o que relato). Iemanja diverte-se com a minha desorientação, apregoando que o que eu procuro fora, nas minhas frases mal alinhavadas e sem nexo, desde sempre esteve cá dentro, e ri de mim, trôpega, dando 2 passos em frente, seguidos de 4 para trás. 

Enquanto isso, a minha alma, presa aos pés da cadeira, fazendo de conta que é o cordel com que a amarrei que a mantém junto a mim, sorri, trocando olhares cúmplices com o meu anjo da guarda. Eles sabem dos mestres que cruzaram o meu caminho, eles sabem das flores que falam, eles sabem de Deus que se faz menino para que eu o veja. Eles sabem que o que vem de fora, desperta o que temos dentro, aquilo que se repete há vidas e vidas, e, brincam de colocar pedrinhas coloridas no trilho que sigo para que eu encontre o caminho que me leva invariavelmente ao coração, e que eu não vejo, distraída que ando com os desfazeres da vida.



2 comentários:

  1. "Desfazeres" da vida, belo termo para designar tanta coisa onde gastamos o tempo:)
    Bons trilhos até ao coração...
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. obrigada, CC. é um caminho com mais retrocessos do que avanços, em quantidade, mas o inverso, em qualidade :)

      Eliminar