sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Empadas e coisas assim










A mulher ao meu lado tem um dom natural para falar com malucos, costumo eu dizer, num tom carinhoso para todos os intervenientes nessas conversas.
[parece-me que já aqui falei dela]
É capaz de estar uma tarde inteira a ter conversas incoerentes, absurdas, sem se cansar e com o coração a transbordar de compaixão.
Ela está ao meu lado, e fala. Fala sem parar, encontrando assuntos e temas que eu mal ouço. Vou anuindo. Vou concordando.
E sei o que ela sente.
Ela tenta, num desespero manso, afastar o buraco negro, que, dentro de mim engole o que me faz alegre e me dá aquela capacidade de sentir que os dias valem a pena, com estas palavras, assim mesmo, simples e ingénuas.
A mulher fala para que eu me salve. Fala-me de empadas, de fornos inteligentes, de bolas de carne, de formas de pagamento e de queques de cenoura com cobertura de chocolate.
Pudesse eu salvá-la também quando se afoga na impotência da vida.








8 comentários:

  1. Bom dia, Ana.
    Há palavras que nos tocam fundo e, lá no fundo da alma, ficam.

    Fique bem. :)

    ( hoje, vou sair e andar à chuva. Quem sabe a encontre, perto do mar? )

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    1. Cheguei molhada até aos ossos...
      Bom fim de semana, Janita.
      Obrigada :)

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  2. fernando pessoa, transvestido de álvaro de campos:

    «Quando é que passará esta noite interna, o universo,
    E eu, a minha alma, terei o meu dia?
    Quando é que despertarei de estar acordado?
    Não sei. O sol brilha alto,
    Impossível de fitar.
    As estrelas pestanejam frio,
    Impossíveis de contar.
    O coração pulsa alheio,
    Impossível de escutar.
    Quando é que passará este drama sem teatro,
    Ou este teatro sem drama,
    E recolherei a casa?
    Onde? Como? Quando?»

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  3. Já eu Ana, sou fã de empadas, mas sem creme...daquelas que é só massa e conteúdo, não gosto quando levam creme, natas, ou lá o que é...
    Já sou menos fã de pessoas que falam muito e muito e quase não nos deixam respirar.
    ~CC~

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