no final, é a nós que voltamos, se soubermos vislumbrar esse caminho de regresso, esse caminho que fica quando aquilo que durante tanto tempo foi o nosso norte, a nossa bússola, que tão subtilmente marginou os nossos dias, chega ao fim, parte para outros mundos que desconhecemos, e nós ficamos, com o espaço a sobrar por todos os lados.
ali, naquela mansidão de dia de sol de outono e de mar de primavera, eu senti que sou mais terra e mais mar e mais vento e mais fogo do que qualquer um possa entender.
em momentos assim, ouço sempre a voz do meu pai, naquele dia também de sol, em circunstâncias que pendiam entre o desespero e a esperança, dizendo, "olha o mar!", como se o visse pela primeira vez, naquele dia, aos 86 anos.
o teu texto lembrou-me um senhor cego com alguma demência. eu estava a trabalhar num lar naquele dia, sabes, e fui busca-lo à sala de estar. o senhor tinha acabado de ouvir alguém a tocar um piano na televisão. e perguntou-me para onde é que o levava. e eu respondi que estava na hora de jantar. ao que ele diz muito rápido eu não quero jantar, quero um piano. e repetiu a frase três ou quatro vezes, mesmo depois de sentar-se na cadeira. oh foi para mim a coisa mais doce que alguma vez ouvira.
ResponderEliminarpoder regressar a casa, a nós, traz-nos a paz necessária à alma.
um abraço apertado, ana bonita.
é deitarmo-nos no nosso próprio colo.
EliminarAbraço, menina bonita :)