sexta-feira, 12 de abril de 2019

lixo







a mulher que conta sacos de plástico na caixa de supermercado, explica
são para o lixo. são fortes e dá para amarrar. eu não gosto que se veja o lixo que deito fora, sabe?
simpatizando com a figura que vejo, devolvo conversa
a minha avó dizia que pelo lixo, se vê a riqueza duma casa...
e tem razão... há muita gente má por aí... viu o caso daquele padre que abusou de 35 crianças?
ouvi falar...
respondo, tentando evitar pormenores
se a nossa primeira vez nos põe doentes, imagine uma criança... um horror... na minha primeira vez fiquei doente, muito doente. deitei tanto sangue... o meu marido já morreu há 20 anos e nunca mais quero outro. 
e eu, sem saber o porquê daquela conversa
tenho cinco filhos, todos eles no estrangeiro, todos. também vivi lá. quando me casei, o meu marido, que era muito ciumento, disse para a minha mãe - ela não vai trabalhar. o dono dela sou eu - e estive aqueles anos todos em casa. fiz muito crochet. fiz toalhas, fiz colchas, tenho de tudo.
preencheu o tempo, está a ver?
digo, tentando dourar-lhe o tempo de clausura
só os meus filhos, todos no estrangeiro. os cinco...
e nós aqui, tão longe do estrangeiro, enquanto a mulher guarda o pão e o meu filho lá para o sul, e eu triste com as razões que me trazem alívio neste mar estranho da saudade





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