foi quando vi, naquele dia de chuva mansa, o jardineiro de pessoas abeirar-se da mulher que lavava um futuro nas margens do rio, de guarda-chuva, que percebi que aquele gesto de protecção seria o sinal de reprovação dos deuses, quando tudo parecia tão possível.
[soubesse eu ler tão bem os sinais que a vida me envia, como soube ler aquele]
o facto é que a mulher das margens do rio precisa de chuva para se iluminar nos caminhos que percorre tantas vezes cobertos de noite, tantas vezes cobertos de limos, tantas vezes cobertos de nada.
mas, daqui deste lugar onde assisto a tudo, suponho que com graciosidade aceitou aquele gesto de aparente carinho, com graciosidade foi perdendo o brilho raro dos mundos invisíveis, com graciosidade desconheceu-se de si, com graciosidade perdeu-se do jardineiro. tudo ao contrário, tudo por amor, e por gestos de amor, se perderam, um do outro.
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