quinta-feira, 19 de julho de 2018

o jardineiro











o jardineiro de pessoas abeirou-se da mulher que lava o futuro nas margens do rio
a minha profissão tem feito com que eu assista ao degradar da condição humana, e quando eu vejo aqueles corpos a esvaírem-se de vida, fico a pensar se a alma partirá para algum lugar depois de deixar o corpo
a mulher que lava o futuro nas margens do rio mergulhou o seu olhar no do homem inquieto e contou-lhe do que sabia e do que viu nas almas já desprovidas de corpo que encontrou nas viagens pelos mundos fora do mundo
mostre-me mais, leve-me consigo
murmurou o homem que leva os dias ajardinando pessoas
difíceis são as viagens quando a distância vem de dentro do peito, todas as outras são possíveis









4 comentários:

  1. são difíceis, sim. às vezes nem eu sei em que parte do mundo me perdi, mas continuo a procurar-me. talvez seja esse o sentido. :)

    deixo um beijo no teu coração, ana bonita. :)

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    1. Nunca deixes de procurar por ti, menina bonita.
      Que o dia te seja Bom.
      Beijo-te

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  2. Este texto, poético e muito bonito, lembra-me a Blimunda, do Saramago, que vi as pessoas por dentro e recolhia vontades, o Eduardo Mãos de Tesoura, os versos do Jorge Sousa Braga - «É tão difícil guardar um rio/ quando ele corre dentro de nós» ou, embora siga em sentido contrário, o poema da Yvette Centeno:

    Chegaste
    com a tua tesoura de jardineiro
    e começaste a cortar:
    umas folhas aqui e ali
    uns ramos
    que não doeram...
    Eu estava desprevenida
    quando arrancaste a raiz.

    Bom fim-de-semana, ana. :)

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    1. Muito obrigada, deep. Que comentário tão bom...
      Bom domingo!
      Beijo :)

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