sexta-feira, 1 de junho de 2018

o telemóvel










à rita saem-lhe uns fios dos ouvidos, enquanto ela, sentada sozinha na mesa do café, não está na realidade sozinha. fala sorridente para o telemóvel pousado no lugar vazio. no ecrã estava o namorado emigrado em italia, ainda deitado na cama, ombros nus a escaparem do lençol e cabeça de lado, pousada na almofada. conta quem viu que assim estava, e poderá até ter visto mais do que aquilo que conta, dizem as más linguas.

as saudades já não são o que eram
garantem na mesa ao lado - aquela ânsia de ver as faces do ente querido ausente, quase a desvanecer na memória, as rugas que não se viram nascer, os cabelos subitamente prateados. não, as saudades já não são o que eram. rita, vive os dias em directo com o josé, telemóvel no bolso, durante as horas de trabalho, telemóvel na mesa da refeição, telemóvel no chuveiro, garante ela, telemóvel na cabeceira da cama até adormecer. 
e você nem sabe o que mais se pode fazer com o telemóvel ...
desafia-me ela
e nem quero saber
asseguro, vendo o casal de namorados aqui ao lado, com os ditos aparelhos nas mãos, a jogarem um qualquer jogo, cada um, um com o outro.
nem quero saber. 

















4 comentários:

  1. Têm o seu lado prático os telemóveis, mas nunca estivemos tão sós e tão desligados dos outros, ana.
    Sinto falta de uma boa e longa conversa.
    Bom fim-de-semana. :)

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    1. também eu. algo que se prolongue.
      bom fim de semana, deep :)

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  2. Por um lado sim, mais longe. Por outro mais perto, desde que temos uma aplicação de família onde nos vemos todos, colocamos fotos, interagimos, acho que a minha família, distribuída pelos quatro cantos do mundo, ficou mais próxima.
    ~CC~

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    1. sim, também encontrei amigos 'perdidos' que de outra forma não encontraria.
      bom domingo, CC

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