sábado, 21 de outubro de 2017

o jardim











a mulher parou no meio do jardim do claustro. parecia que aguardava alguém, mas na verdade já estava acompanhada. na sua mão demorava-se a sensação morna de outra pele, de outra mão na sua.
- já fui feliz aqui - murmurou de olhos cerrados, prolongando todos os minutos possíveis naquele recuar de tempo tão antigo.
a vida fora dela esperava-a. os amigos que assistiam ao render da guarda, os grupos de estrangeiros que seguiam guias que falavam um inglês tosco, as andorinhas dentro das capelas num esvoaçar alegre de boas vindas, os túmulos dos reis que não lhe interessavam para nada, a pomba de leque branca que teimava em não voar. e ela, ali, de mão dada à oportunidade de reviver um amor invisível por fora, rejeitando o calor do amor que lhe ofereciam.
que estava louca, era o que diziam alguns. 
quando regressar, irá lavar as memórias do futuro que não viverá nas pedras lodosas do rio, até que o cansaço a adormeça.

















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