- não pode uma vida imaginária ser também uma realidade? - questiona-me dona fernanda, assim logo pela manhã, enquanto lágrimas de sono correm pela minha cara abaixo. eu digo que não. garanto que não, de forma alguma. o imaginário não é palpável, digo-lhe eu, não é visível, não é companhia, não é diálogo, não é ombro, não é passeio à beira-mar, não é partilha. não é vida, portanto. asseguro, apesar do sono, pois para defender a minha convicção, não preciso sequer de estar desperta.
a dona fernanda teima. diz que nem dormiu com a ideia aos rebolões na cabeça.
- mas, vizinha - continua - naqueles quase mil dias, que a vizinha sabe, eu vivi aquela história invisível, eu sentia-me acompanhada, o meu corpo despertava, a pele reagia, a alegria sobrepunha-se às dificuldades dos dias, o azul era mais do que uma cor, o coração ansiava, os dias cresciam, a vida era mais vida. fiquei só, é verdade, mas não ficamos todos sós no final?
fiquei com um bocejo a meio e liguei a máquina do café. lembrei-me de todas des-ilusões e des-esperanças que a vida me tem trazido, deixando-me um travo triste na boca a vida desperdiçada. pelas palavras da dona fernanda, recolho todos esses cacos des-coloridos e construo uma nova forma de ver. talvez tudo o que nos faça sentir vivos, seja uma preciosa forma de viver. mesmo que seja imaginária, mesmo que seja no singular, mesmo que seja unilateral.
Talvez. Talvez só importe como te sentes e não porquê, e então talvez a imaginação sirva. E a imaginação substitua tão bem a realidade que de certa forma passe a sê-la sem se cair numa esquizofrenia perigosa. Falta-me o segredo para aprender a ver assim, viver assim.
ResponderEliminarA mim também. Aceitar que é possível viver assim.
EliminarBom dia, Olvido
Tenho batido tanto nessa tecla; quando alguém decide pegar na vida alheia - o que outro escreveu e publicou - e nessa base decide ficcionar/imaginar/inventar, criar uma realidade paralela, "baralhar e voltar a deitar cartas", utilizando a "base" como matéria-prima a seu bel-prazer.
ResponderEliminarHá mulheres assim. Acho bastante perigoso.
é difícil não cair na tentação de imaginar o personagem que escreve. viver numa ilusão, é mais complicado :)
EliminarCada um é livre de viver as ilusões que bem entender desde que sejam as suas e não interfiram com a minha realidade...a liberdade dessa pessoa acaba onde começa a minha.
Eliminarexactamente, Té. desde que não haja manipulação.
Eliminarobrigada :)
Talvez ana, talvez alguém alguma vez consiga tal proeza de conseguir viver assim, que a imaginação lhe baste e a faça feliz, mas não sei....
ResponderEliminarum mundo paralelo, Maria :)
EliminarEu preciso tocar para viver. Até quando escrevo. Pouso as palavras na minha pele.
ResponderEliminarUm beijo no teu coração, ana bonita. :)
e eu menina bonita, e eu.. fico assim à toa se tenho os sentidos e não os posso usar :)
Eliminarabraço-te :)
Pois eu admito invejar quem tem a fantasia como companhia. Seria a maior das redes de salvação. Aliás, as artes provam a existência dessa "rede".
ResponderEliminarViver uma vida que não é real, será viver?
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