a mulher que à minha frente se deliciava com duas pizzas, ora uma, ora outra, falava ao telefone:
- estou a comer uma sopa
dizia, com naturalidade
por instantes, condenei cá com os meus botões aquela mentira insignificante... para quê... não se poderia dar ao direito de comer uma pizza? mas depois, percebi que talvez não quisesse que a pessoa do outro lado lamentasse não poder partilhar o momento, ou talvez que a julgassem desafogada, como se o desafogo fosse pecado, e talvez fosse, aos olhos da outra.
vim para casa menos intransigente, mais maleável na minha condenação da mentira, tentando entender o direito a não dizer a verdade. afinal de contas, o momento era dela, para ela, com ela.

Ah, ah...fez-me lembrar uma história contada por um velhote alentejano que comia todos os dias no mesmo sítio e todos os dias a filha lhe ligava depois do almoço a saber o que tinha comido...se envolvesse enchidos, carnes vermelhas ou de porco, etc...lá vinha reprimenda. Então, o velhote passou a dizer à filha tudo o que ela queria ouvir, nunca aquele restaurante serviu comida mais saudável...até que a filha começou a ligar directamente para o restaurante:))) Pobre velhote!
ResponderEliminartalvez se a filha lhe fizesse uma sopinha... :)
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