segunda-feira, 3 de novembro de 2025

caminho

 



a mulher calcorreava as ruas com passo apressado. chovia. o casaco fino que trazia não tinha sido feito para a abrigar da chuva. as calças de malha, supostamente brancas, cresciam-lhe por baixo das sapatilhas, com o peso da água que pisava. pisava chão, pisava água, pisava as calças. mas não se detinha. talvez tivesse horas para chegar. no ombro, inclinado, levava a bolsa e na mão o telemóvel de onde só desviava os olhos para atravessar uma rua. seguia o caminho pelo gps. estaria perdida, ou estrangeira naquela terra sem alma feita de prédios, alcatrão e trânsito. muito trânsito. quem a visse, julgá-la-ia alienada, completamente alheia ao que a rodeava, com o fito único num qualquer número de porta. ainda ouviu alguém dizer-lhe de passagem 'está a chover...', como se não soubesse. a chuva que caía subia-lhe pelas pernas, e descia pelos cabelos. o que a conduzia, só podia ser maior do que ela, do que o tempo, do que a orientação terrena dos seus passos, do que o seu desiquilíbrio.

talvez seja assim que caminham os loucos, conduzidos por algo maior do que eles.






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