segunda-feira, 1 de agosto de 2022

notícias de bordo

 




tantos meses passaram em que as palavras não foram escritas e parcamente faladas, segundo lamenta o timoneiro, agora.

de acordo com os registos de bordo, as missivas tornaram-se inúteis, por incompreendidas e, por isso mesmo, quero crer, sem resposta. o timoneiro foi fértil em mutismo, atitude que reverteu nem sei bem dizer quando nem porquê. 

a meu favor, por incrível que possa parecer, tenho o rum que ainda sobra e que é de fraca qualidade prejudicando gravemente a memória de curto, médio e longo prazo e enevoando a criatividade que se tornou inútil em dias de marés paradas em alto mar.

e quer o timoneiro que lhe fale de amor, como quem fala do destino, enquanto sulco a remo, por águas barrentas e lodos manhosos, um caminho que desconheço, sem mapa, sem traçado, desconfiando cá com os botões desta casaca puída que isso a que se chama corriqueiramente de amor é um sentimento matreiro, espada com dois bicos, subida com degraus falsos, máscaras em cima de máscaras, como uma cebola fora de época, bonita por fora, mas que fede nauseabundamente por dentro.

mas neste longo trajecto de nortadas que morrem antes de estrebucharem em águas estagnadas, à navegadora desta mono-barcaça foi-se lhe alargando o peito de espaço para sonhar, de permissão para acontecer, de se desviar do tempo, esse das cronologias que nos estabelece prazos de validade e nos encorrilha os dias. talvez seja um bom prenúncio. 

talvez seja

ou talvez não seja









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