azevinho

bem sabe, doutor, que há momentos na nossa vida em que tudo se conjuga, ou na alegria, ou na desilusão, no desmoronar da construção dos nossos dias, num cataclismo económico, também poderia dizer assim, se tomasse o tempo de vida como um investimento. 
e, aqui sentada, somando às horas em que tenho estado assim nestes dias, semanas, até meses anteriores, a minha mente voa entre a impossibilidade desejada de desviver o que tenho vivido, e, o de perceber porquê, nestes 56 anos que já conto, ter que passar por este desamar, desconfiar, desacreditar. o cansaço turva-me o alinhamento, quer de mim comigo, quer de mim com os desígnios, quer de mim com os ensinamentos.
pretende a vida que eu seja una comigo, e, que me estenda para os outros num despojar constante, num desapego tão incompatível com este anseio de imutabilidade, de eternidade, de confiança, num extremo, de entrega também.

sabe, doutor, nasceu-me um azevinho no vazo onde tombam, secas, as folhas das frésias. como toda a gente sabe, o azevinho é uma planta sagrada de proteção, de afastamento de energias densas. eu acho que é deus a falar comigo, naquela forma lá dele de se manifestar em simplicidades.