quinta-feira, 15 de julho de 2021

dos dias

 




é verdade, forasteiro. hei-de dizer, provavelmente sem errar, que os meus vizinhos de horta já se habituaram ao meu modo lento de tratar da terra, ao banco onde me sento para separar as ervas daninhas sem danificar os meus amores-perfeitos. acho que já não me estranham e os seus comentários são espontâneos e alegres. lá está você aí à sombrinha a arrancar ervas... dizem eles, por vezes apontando que, no desgoverno, fulano ainda consegue ser pior do que eu.

mas, enquanto protejo tudo o que nasce espontaneamente, como as calêndulas, os espinafres, as beldroegas, as couves galegas, aquele carreiro de ervilhas que nasceu sem o semear, e, até mesmo os amores-perfeitos que se misturam com os feijões, vou pensando se mãe Gaia fala comigo, mostrando-me que tudo aparece no devido tempo,  se eu souber ver, se eu souber valorizar, se eu souber aceitar.

olho para dentro de mim e tudo me pede quietude. e quando Lhe peço um sinal, numa forma de linguagem que eu entenda e num doseamento que o meu corpo suporte, Ele gentilmente me traz verduras, textos, diálogos, músicas com palavras dentro.







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