segunda-feira, 26 de julho de 2021

Ano Novo




A mulher que lava futuros nas margens do rio parece imóvel no momento em que Sirius se eleva de mãos dadas com o Sol.

É um novo ano que inicia

Sente, enquanto a cidade desperta e o ruído da vida dos homens faz silenciar o murmurejar  da água, trilhando caminho em direcção ao mar.

Você fez a travessia do deserto

Dissera-lhe o negro desconhecido ao cruzar - se com ela. E sim, estava a fazer, anuiu com o sorriso à deriva naquele ondular que só ela sentia.

A mulher que lava futuros nas margens do rio, ponteou e branqueou passados, perfumou com alfazema e guardou no mais fresco algodão, tornando o presente em leve brisa do Sul, em suave aroma do mar.

Há pessoas que passam na vida da gente com propósitos ocultos nos intersticios da alma. E a mulher sentia-o naquele dia em que os astros lhe permitiam um novo começo. 

O coração, trazia-o repleto de um amor de gratidão pelo deserto que atravessara. Nele aprendeu o amor, aprendeu a amar e a deixar-se ser amada, aprendeu a aceitar, aprendeu a aceitar-se, reconheceu as limitações dos homens e sentiu o cheiro do medo dentro de si, o medo que tolhe, e falou com ele. 

Naquele deserto silencioso aprendeu a ser benevolente consigo mesma e a reconhecer-se nessa aridez. Percebeu no seu todo que o lugar do outro, é do outro, e não o seu. 

Agora, forasteiro, se me leu até aqui, saiba que o jardineiro de pessoas continua a passar carregando mundos às costas, e a mulher fez da travessia sustentação, fez estrada, fez caminho para casa, para dentro, para si mesma, outra vez. 





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