segunda-feira, 23 de novembro de 2020

o amor mais bonito




foi inesperadamente que a mulher que lava futuros nas margens do rio encontrou aquele que fora o amor mais bonito. rosto coberto, passos lentos, como se quisesse atrasar o destino que o sugava

[mirrado

ouvira dizer as pessoas

e estava

sentiu a mulher]

pousou o olhar no rosto do amor mais bonito e tentou fazer dele uma redoma que o proteja, e cada palavra sua é uma fraqueza dele que amacia, para que não se envergonhe de toda a sua incapacidade perante um mundo feito de prejulgamentos e culpas, feito de indisponibilidade para amar. um futuro a que a mulher teima em adiar o reparo. 

[não, o amor não basta. às vezes a vida é uma reportagem do correio da manhã guardada numa mala de louis vuitton. 

digo-vos eu, que sei de vidas]

enquanto os ventos se lhe enredemoinham no peito, a mulher prende o olhar dele no seu, com todos os abraços do querer rendido. no saco, onde carrega pedaços de almas que não conseguiu apagar dos futuros desfeitos, procura os detalhes preciosos que lhes garantiam uma velhice em amor. mas os detalhes, por singelos e pequenos, a um descuido invisível, invisibilizam-se, também. e sem detalhes tudo morre, porque não há grandeza que não seja composta deles.

dizem que ao jardineiro de pessoas foi-lhe retirado um pedacinho do lado direito do cérebro que coloria os dias por vir, e também, um canto escondido do coração onde uma redoma protegia o seu amor. 

[as gentes, diz o povo, habituam-se a tudo. e, daqui, a uma distância de treze candeeiros de rua do jardineiro e a dois lampiões da mulher que lava futuros, conto-vos que ela está mais atarefada do que nunca, consertando futuros que não são seus, a poente, e que ele, a nascente, ajardina vidas, e nenhuma é a deles








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