segunda-feira, 30 de novembro de 2020

engana-se quem diz que o que passou é inalterável

 



o futuro tinha deixado de ser direcção, meta que se almejasse.

sentada, virada para norte, ponto cardeal onde dizem que tudo nasce e tudo morre, ela aprimorava o presente para não destruir o passado. 

engana-se quem diz que o que passou é inalterável, por estar passado. a cada gesto, a cada escolha, a cada palavra, todo o significado dos dias vividos, do amor partilhado, da dedicação oferecida, do esforço exercido, vai modificando, vai engradecendo, ou vai desvalorizando. 

a mulher, que cada vez menos futuros tem para lavar, para remendar, para desencardir, aprimora presentes, cerze os dias, para que os passados não se esboroem e a vida se cumpra.

à medida que passeia a agulha pelos tecidos puídos dos dias, bordando flores nos contornos gastos do coração, lembra a frase soprada,  'quando te curas, curas todas as gerações. as passadas e as vindouras'. e assim é.












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