sexta-feira, 30 de outubro de 2020

tempos tão difíceis estes

 





entretanto, por aqui, vejo os olhos das mulheres brilhar, quando se encontram por acaso no corredor do supermercado. paradas, com cerca de um metro a separá-las, esse tipo de muros que gritaram tanto que não se construíssem. falam. falam como se com as palavras quisessem galgar aquele espaço entre os corpos, aquele espaço que faz crescer a saudade, aquele espaço que salva e que mata lentamente. 

tempos tão difíceis estes...

ouço a mais nova dizer, enquanto a outra salpica de alegria e fé o facto de se encontrarem ali, de estarem vivas ali, de o futuro poder ser possível.

de máscaras a esconder metade do rosto, as mãos ansiando pelas mãos da outra, a mais nova explode um 

não temos nada... quero abraçá-la...

e rompe o espaço, e encosta o rosto coberto, e os braços rodeiam o corpo da outra num laço apertado, e afasta-se com os olhos alagados em lágrimas

tempos tão difíceis estes










4 comentários:

  1. Caramba, que emocionante um abraço...já não sei qual é o maior perigo, se a sua presença ou a sua ausência.
    ~CC~

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  2. tempos difíceis e sem fim à vista. Parece-me que infelizmente temos de nos adaptar...

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    1. vamos ter que ler com mais atenção o ´'Principezinho' e Não há longe nem distância' :)

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