quinta-feira, 27 de agosto de 2020

dos amores





o amor dele chegou de sopetão. dizia ele que o que sentia era amor, mas, vendo o fogo e o desarranjo que causava naquelas emoções, eu diria que era paixão. era o desvario da incerteza, a ânsia de querê-la só para ele, a desconfiança dos caminhos dela, o frenesim para encontrá-la. e depois, assentou a poeira, o reboliço, do fogo ficaram as cinzas.

o amor dela chegou mansamente, com cautela, com receio. fazendo um acordo com o tempo, foi com cuidado que foi traçando aquele caminho. eram tantos os receios que ela trazia na pele. foi decorando a transparência da sua íris, quando o sol o apanhava pela frente, gravou na memória dos seus dedos os traços, os vincos, a maciez, do corpo dele, o corpo onde ela podia manifestar a sua forma de o querer. e aninhou-se nas suas promessas, repousou naquele amparo, brilhava de gratidão, por poder amar.

do amor dele, eu posso dizer, sem falhar muito na metáfora, é como um novelo de palha que percorre o deserto, com alarde e espalhafato. 

o amor dela, foi criando raízes, e embora se faça ao vento para conseguir aligeirar, a cada pedaço que se solta da terra, perde o viço e escurecem-lhe os dias.







4 comentários:

  1. colinho? não quero dias escuros quando a noite já é longa. :)

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    1. se forem escuros, então que tragam chuva para lavar a alma :)

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  2. Anuska, querida, tenho a sorte de ter feito - me ter obrigado a um trabalho interior: anos! - que já não me faz passar por isto :D

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