segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

serviço








o homem estende-me a mão
pode cumprimentar, estão limpas e tratadas
o senhor antónio tem as mãos largas e todo ele se move como se cortejasse a vida, com o cuidado de um amante, que, amando, esteve tempo demais distante da sua amada
eu deixo a minha mão ser abraçada pela dele, enquanto lhe desejo que o dia seja bom
passei meses a fio no barco. comia e dormia no convés arranjando redes. só eu sabia da arte e as minhas mãos, com o frio e a água salgada, gelavam e secavam que eu nem conseguia dobrar os dedos. eu sei dar valor à vida, sabe? e às mulheres. respeito muito as mulheres porque vivi muitos meses sem ver uma. as mulheres são um ser maravilhoso, feitas para nos servir e dar conforto...
enquanto o pescador fala, eu tento ver as imagens que vestiram aquelas palavras, eu, que por muito que me revolva as entranhas, também sou uma servidora de homens


















6 comentários:

  1. ana,
    numa comunidade dá-se mais do que se recebe, mas não deixes de saber exigir a parte a que tens direito dos homens e das pessoas. :)

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  2. Não houve, na simplicidade das últimas palavras do pescador, a conotação hedionda e machista que as feministas tanto detestam, nem acredito que a Ana sinta as entranhas assim tão revoltadas, pois os homens que diz servir e proporcionar conforto, serão os que das suas entranhas saíram, e estão a ficar rapazes, quase homens feitos... e, porventura, o pai deles! :))

    Boa noite e um abraço, Ana!

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    1. tem razão quanto ao pescador, Janita. Por isso eu tentei ver as imagens que vestiam aquelas palavras.
      Abraço de bom dia para si :)

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  3. Respostas
    1. está tudo ao contrário e o avesso está a tornar-se direito

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