terça-feira, 2 de julho de 2019

circunstâncias








Não estivesse eu tão cansada dos dias, de pensar, de usar óculos para ler [secam-me os olhos por detrás das lentes e pesam-me as hastes nas orelhas], de saltar de tarefa em tarefa, de já nem saber como se descansa, e talvez escrevesse um texto que parecesse um poema.

Lembro-me do espanto por amar e ser amada. Mergulhar nos olhos daquele cujos dedos entrelaçavam os meus e ter a certeza de morar ali. Agora, as minhas palavras são facas afiadas que se cravam lentamente com precisão, e não consigo parar. Escancaro a verdade que trago por dentro, sangrando, e não aceito interpretações e não me comovo.

Comover é a capacidade de entrar na emoção do outro, como se fosse nossa, e eu vou liofilizando, por dentro. Seca, mirrada, gelada.

Que é cansaço, diz-me ele, que quando me sinto assim é cansaço. Eu digo não, que é a vida, reunindo circunstâncias simultâneas para que eu veja que o que me falta sou eu mesma.












16 comentários:

  1. Como eu a entendo Ana, como eu a atendo. Mas não desespere.
    Para si, haverá sempre um amanhã...
    Durma bem. :)

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    1. Não desesperarei :)
      Durma bem, também, Maria Antonieta.

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  2. que te dizer quando estou raso de palavras...

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  3. escrever assim não é de quem está seco
    isso que sentes vem de sentires, agradece por isso.
    o resto é usar a capacidade que temos de escolher e decidir

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  4. E escreveu mesmo um poema e cheio de sentimentos porque a tristeza, a raiva e o desespero enchem os poemas como a alegria e a esperança e a felicidade. Aos primeiros a poesia é ajuda mais preciosa pois ajuda a expurgá-los.
    Um abraço apertadinho (espero que em breve de corpo presente).
    ~CC~

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  5. Vais reencontrar-te ana. Quem sabe num daqueles passeios descansados à beira mar com os bolsos cheios de conchas e a esperança na alma :)
    Beijinho

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  6. Tenho uma amiga que diz que não há relações, que no campo das interacções pessoais o que existem são… “ralações”; e cita Sartre quando diz que “inferno são os outros”.

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    1. eu não concordo com Sartre. eu acho que os relacionamentos são escolas :)

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  7. os outros desse inferno do sartre, na verdade somos nós, sou eu
    porque a cada momento me vejo como objecto aos olhos de outros
    e que sou e o que faço resulta da minha liberdade de escolha
    sou livre de fazer o quiser, mas a existência de outros reduz e tem impacto nessa liberdade

    ela tem razão que mesmo na 'relação' o 'inferno são outros' mas não por culpa por outro, tipo fazer-me a vida num inferno
    mas pela simples existência minha e da outra pessoa

    xiça, ficou palavroso, há coisas que não consigo dizer :)

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    1. Eu não concordo com Sartre :)
      Para mim, o inferno são circunstâncias das quais não podemos sair

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