sexta-feira, 31 de maio de 2019

depois










eu acho que tudo começou quando me rendi à necessidade de adoptar uma batedeira eléctrica. as mãos deixaram de fazer parte da alquimia de transformar a farinha em massa. e assim se começou a desaparecer a magia.
depois, a mulher morreu.
depois, ele, que coincidia comigo, descoincidiu.
depois, o homem-terra tomou-se de ciúmes.
depois o trabalho escasseou.
nada disto é grave, mas a magia entrou pela terra dentro e desapareceu. com ela, foram as palavras e os meus dedos ficaram secos.
engana-se quem pensa que algum dia escrevi sozinha. pousados nos meus dedos estavam todos esses que de uma forma ou outra foram desaparecendo.

mas devo contar que Iansã tem ido caminhar comigo enchendo-me o peito de nortada da boa, fresca, forte, salpicada da água que Poseidon me atira para me despertar. garanto-vos aqui que os vi, pairando nas ondas do mar, há dois dias, quando o mar chamou por mim. e eu fui.










17 comentários:

  1. Se a Ana não tem livros publicados, devia pensar no assunto. :)

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  2. 'Iansã cadê Ogum?'
    https://www.youtube.com/watch?v=AVXkn1cfWXg
    as tuas palavras, Ana, são das mais ternas que conheço online. bem-hajas.
    quem me dera eu ser diferente e poder escrever equivalentes palavras masculinas.

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  3. a caminhar com a concorrência...
    nã deixes as palavras irem, demolha os dedos e acredita que és tu e nã os outros...

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  4. Apetece, esse mar que salpica...

    Beijo, ana :)

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  5. Que as palavras venham agora com mais espaço ou de quando em quando, eu compreendo...mas não nos abandone:)
    ~CC~

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  6. As ondas vêm e vão, assim como os dias. Uns bons, outros menos bons. É esperar...
    Beijinho

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