segunda-feira, 24 de setembro de 2018

sábado







o homem, que tinha entrado para aquela sala de operações a contar anedotas e confiante que aquele órgão que lhe iriam substituir pela segunda vez, lhe traria mais anos de vida, não sobreviveu. foi uma rasteira da morte. apanhou-o desprevenido, apanhou-nos a todos desprevenidos, e levou-o. brincadeira parva de mau gosto.
aninhada no meu abraço a mulher soluça
ele não queria partir, ele está muito revoltado, ele anda perdido
apenas murmuro, com os lábios encostados ao seu cabelo 
eu sei, eu ajudo, eu ajudo, mas ele sabe o caminho...
com os olhos rasos de água a mulher sossega
tu sentes, ana, também sentes?
(sinto muito)
(sinto tanto)
...
somos cinco sentados ao almoço no dia do meu aniversário. peço ao rapaz que fez a refeição que ponha a tocar uma música de parabéns para que brindemos à vida, e, no telemóvel, encaixado por graça naquela caixa de lanson, ouço tocar nothing compares to you.







Sem comentários: