domingo, 8 de julho de 2018

a partir dali










     até podia ser, visto de fora, mas diz que não, que não se tratava do cansaço de recomeçar mais uma vez, daquela sensação  do seu corpo outra vez esgotado, do coração desgrenhado, de cada passo que dava voltar a ser uma conquista, da incessante oração ao anjo da guarda a ecoar-lhe no peito, da cor alegre no vestido para que lhe tinja a alma de azuis turquesas e corais de todas as tonalidades. não se tratava do cansaço de recomeçar, mas da oportunidade de o poder fazer mais uma vez, depois de se ter rompido de cima a baixo, ao conscientemente quebrar os seus limites. então, naquele domingo agradecia a deus por conseguir atravessar a rua para fazer compras no lidl, e por aquele momento em que despejava os plásticos no ecoponto, agradecia por lhe ter sido permitido quebrar a regra da fragilidade, e reconstruir-se dolorosamente, mais uma vez, tentando mentalmente retroceder no tempo aos dias antes da dor, e caminhar, a partir dali, como se tal fosse possível.









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