segunda-feira, 25 de junho de 2018

sucateiro








[se escrevo, é para que não me esqueça, pois eu sou de memória curta]

fazia naquele dia quatro anos que o conheço, que quando o vi, ponderei sair dali, daquele lugar, no mesmo instante
o que é aquilo?
questionei  quem me acompanhava
parece um trolha...
continuei, com todos os preconceitos de que sou feita

o homem-terra também faz serviço de trolha, de sucateiro, de curandeiro. mas naquele dia, tinha-me sentado ao seu lado para lhe falar da dor e da morte e do meu corpo. da doença que galgou o corpo da mulher borboleta e todos os dias o transformava em algo diferente; para lhe falar da aceitação da mulher debilitada, da dependência, da forma de a alimentar, da higiene, da dor, da dor e da dor.
e chorei. caramba, chorei. finalmente as lágrimas encontraram uma saída para fora de mim.
[não se consegue impedir o curso da água
costumava dizer o meu pai, quando alguma construção aluía]
não é com a morte que tu lidas mal 
diz-me o homem-terra, sentado no chão
é o apego que te faz sofrer 
e não é por mal. as pessoas tomam o apego, o controlo e o medo, e chamam-lhe amor. mas o amor não é isso. isso cria uma barreira. como uma parede, percebes?
e eu percebo
que impede a circulação de energia e então tudo estagna. o sentimento estagna, a vontade estagna, a força para prosseguir estagna, o trabalho estagna, até o dinheiro e os estudos estagnam. amor é deixar fluir, deixar circular, é estar cá mas deixar ir, e ir também, é deixar ser, e ser também. e não estou a falar do amor de casal, do amor amoroso, estou a falar de amor mesmo. então, tudo se movimenta, a vida, a saúde, as emoções e a alegria. e tudo muda. mas esta mudança é a partir de dentro de ti que tens que a fazer, não esperar que os outros o façam. é a partir de ti. quando os deixares ser, eles serão, e isso é amor. muda, e tudo muda à tua volta. tu sabes bem, já o viste acontecer tantas vezes.












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