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eu não sei há quanto tempo as cores se tornaram tão vivas para mim, mas não foi há muito. um dia, ao aproximar-me da beira do rio, admirei-me com o verde da outra margem e surpreendi-me com a cor branca do kayak que cortava o cintilante escuro da água. também já há algum tempo que, sempre que posso, passo horas, neste aparvalhamento de não fazer nada, a olhar para os tons luminosos das folhas das árvores ao moverem-se ao sabor do vento, e nas tonalidades prateadas das nuvens no céu, quando o firmamento não me apresenta este azul monótono, como hoje.
...
esta manhã, com os raios do nascer do sol a incidir na mesa onde tomo o pequeno-almoço, reparava na cor de laranja da tangerina que descascava, e surpreendi-me com a perfeição dos gomos e o seu sumo doce ao desfazerem-se na minha boca. juntei os pequenos caroços, um a um, um potencial de vida, um pomar de tangerineiras.
- o que é isto?
pergunta-me um dos rapazes durante o almoço
- é um pomar de tangerineiras
arqueia as sobrancelhas, olha-me de lado, mas eu insisto
- não achas? já viste como é fantástico? a qualidade e a potencialidade de um pequenino caroço...
encolhe os ombros, emite um sei lá, e eu penso que chegará um dia em que ele verá, também, num amontoado de caroços, um pomar, e talvez pense que só por isso, por tamanha complexidade em algo tão simples, possa existir deus
acredito que alguns consigam, sim.
ResponderEliminarhá certos dias em que vejo.
eu acredito que tu vejas.
Eliminarli este verso e lembrei-me de imediato do teu texto, tão belo.
ResponderEliminar«Se engulo um pinhão
porque não me cresce dentro
um pinheiro?»
Daniel Jonas
se calhar cresce :)
Eliminarobrigada, flor