sexta-feira, 27 de abril de 2018

consumições fernandinas









dona fernanda passa cá em consumições. vem esbaforida, com as faces ruborizadas, não sei se pela pressa, se pela indignação
- dê-me destino a isto, vizinha! já que não posso deitá-lo fora...
e entrega-me, embrulhado em papel almaço, o oráculo que tantas vezes foi orientação, dela, e minha, confesso
- está a chegar a lua cheia e é altura para garantir sumiço crescente nos excedentes
resmunga
mas eu, que cá sei que em objectos consagrados só o dono pode tocar, pergunto o porquê daquela indignação
- é que me enganou, vizinha. ando eu há tempo demais com o peito apertado de preocupações com a saúde daqueloutro, e ao que parece, tem vigor para dar e vender. o oráculo, que lhe faça a si bom proveito. procure aí na net o modo de lidar com ele, ou então enterre-o num vaso e plante-lhe em cima uma arruda. ele é seu, vizinha
e ficou o embrulho pousado na mesa da varanda, e eu sem saber se pegar, se largar. a mim, cheira-me a presente envenenado, quanto à dona fernanda, não será dona fernanda sem oráculo, parece-me, mas está decidida a recusar clientela, ou ajuda a quem precisar









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