quarta-feira, 21 de março de 2018

podia ser deus










quis o altíssimo colocar-me logo de manhã, diante do olhar, um dia de sol, o pisco e um vaso de amores-perfeitos pequeninos. fragilidade, pensei eu, delicadeza e resiliência.

a sala de espera do hospital estava de tal maneira repleta de pessoas que era com dificuldade que se tirava a senha de atendimento.
[50 pessoas à minha frente, e onde está deus no meio destas pessoas todas que misturam doenças de tão encostadas que estão umas às outras]

uma mulher atira palavras como quem se agarra a uma bóia de salvamento, com o olhar preso no de um homem negro, que lhe respondia com calma, sorrindo. ela segurava-se à corda invisível que formavam as suas palavras até ao sorriso dele, como o náufrago se agarra a um bote desfeito.

não custa nada, respondo, perante o doeu? da mulher assustada. não se preocupe, não vai custar nada, digo-lhe, escondendo o meu desconforto, alimentando a esperança no meu peito de que ela consiga quebrar a frieza dos três médicos naquela sala gelada.
a cadeira de Humanidade devia constar do curso de medicina.



















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