terça-feira, 6 de março de 2018

noite







quando levanto o ecrã do portátil é-me mostrada uma imagem de uma grande cidade, à beira-mar ou à beira enseada ou lago ou lagoa ou rio, não interessa, mas é uma cidade iluminada à hora do crepúsculo. sempre me fascinaram as casas onde se nota vida, os prédios onde os apartamentos estão iluminados, imagino os percursos das pessoas ao final do dia, o regresso a casa depois de um dia de sei lá que trabalhos, que preocupações, alegrias, emoções, desgostos, dores, desencontros, surpresas, e, finalmente o regresso a casa, ou o pesadelo de estar em casa. sei lá.
...
o rio parece feito de óleo ondulante e as nuvens insinuam-se em imagens grotescas, tenuemente destacadas do negro do céu. os ramos das árvores que ladeiam o meu caminho têm a forma de uma mão aberta. enquanto caminho, pergunto repetidamente qual é o sentido da vida. eu, que acredito que tudo é possível, que por vezes ouço o inaudível e vejo o invisível, que assisto a oráculos anteciparem futuros e a revelarem passados, que sei que o passado e o presente se misturam, que o que divide os mundos paralelos pode ser transparente e que lá te tenho ao meu lado, que assisto ao sofrimento que corre o mundo, à agonia da mulher doente que não quer morrer mas quer esquecer que existe, que os dias que se esgotam numa luta para apenas sobreviver, para que os outros sobrevivam, à delicadeza com que mostro um amor gritante, dou comigo a pensar que fé, é viver sem saber porquê, sem saber para quê.

















7 comentários:

  1. a vida é uma dádiva rara... imagina que só aqui neste mundo ela existe, de tantos mundos perdidos por ai... é mesmo preciso que haja sentido?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nao acredito que seja só aqui... Mas algo tão tecnicamente perfeito tem que ter uma finalidade, um sentido.

      Eliminar
    2. cada vez mais acredito que seja só aqui... e cada vez preciso menos de um sentido

      Eliminar
  2. ser mãe, sabes, foi o único sentido que alguma vez dei à minha vida. agora, desde que perdi o bebé, ando à procuro de algo, outro sentido, que me permita continuar a respirar.

    beijo-te, ana bonita.

    ResponderEliminar
  3. Viver é tão bom que nunca me ocorreu que precisasse de um sentido. É poder ver o amanhecer, o rio, o sol e a chuva, o anoitecer, um banho de mar, uma comida saborosa...
    ~CC~

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, CC, muito. Às vezes, de tão simples que é, que não vemos. Porém é a resposta. Obrigada por mo lembrar.
      Beijo

      Eliminar