quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

vivências










o senhor antónio conta que agora tem uma vida de lorde
levanto-me às três e meia. ponho o despertador a tocar no andar de baixo para não ter aquela fraqueza de o desligar com o sono. levanto-me, faço um carinho no cabelo da aida, porque nunca sabemos se vamos voltar, como qualquer coisa e abalo para matosinhos, para o mercado do peixe.
os olhos do senhor antónio estão sempre longe enquanto fala, apenas quando olha para mim, é que os olhos pousam, como se descansassem no meu olhar.
agora tenho uma vida de lorde. só trabalho 12 horas. dantes, trabalhava 18, eu e a aida. é duro. é preciso ter força de cabeça, não deixar o corpo cansado mandar em nós. quando eu sentia-me cansado, eu pensava que tinha colegas que estavam no mar, como eu já estive, com as mãos no gelo e no sal, meses a fio sem ver uma mulher... um dia ainda vou contar as minhas vivências.
eu passaria horas a fio a ouvir e olhar o senhor antónio. todo ele é mar, como se vestisse ondas, nortadas e espuma branca. a camisola grossa de gola alta, feita pela aida, traz em cada ponto uma viagem, uma vivência.











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