segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

para amanhã











a grandeza da nossa vida deve esconder-se em pormenores do quotidiano, penso eu muitas vezes, assim como quem puxa a brasa para a sua sardinha. o pai de jesus era carpinteiro, a mãe doméstica, ele seria desempregado, sem abrigo, sei lá. o homem-terra, que tanto me ajuda nos caminhos de dentro, vende peças de automóveis que compra em sucatas, e ele é tão fundo por dentro e tão tosco por fora. 

antecipo tudo o que posso antecipar para criar tempo para amanhã, sabendo que vai ser uma manhã de doidos. peso farinhas, separo ovos, preparo tigelas de água com manteiga, adianto merendas, distribuo dinheiro, traduzo textos, recuso a caminhada à beira-rio, calculo preços e faço contas de subtrair, até o resultado ser negativo. até tomo banho hoje, para não ter que o fazer de manhã. 
é durante o duche que canto orações e peço ajuda aos anjos. no duche e antes de adormecer 'façam com que a minha noite não seja em vão, que me lembre dos sonhos, e que eles me tragam respostas'. não quer dizer que resulte, porque os sonhos do dormir gostam de nos trocar as voltas. no fundo, são  assim como os sonhos do acordar, mas às vezes resulta, mesmo. está bem, podem dizer que são coincidências, que eu quase que acredito.
e agora, que aqui escrevo isto, que nem sei se agende para publicar amanhã, tento antecipar também a falta que ele me faz, de forma a que a sinta toda hoje, e me poupe amanhã.












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