quinta-feira, 23 de novembro de 2017

outono-me










o outono chegou inteiro, com o vento, o meu vento, já não quente, mas ainda não gelado, o vento que me varre por dentro e por fora dos panos com que me cubro, o vento que faz com que as folhas dancem, e despe as árvores numa algazarra de lhes fazer ondular o corpo todo. chegou a chuva também, a minha chuva pouco fria, que me faz sair para a rua para lavar a alma, e lava, e regressar a casa sem o peso da vida às costas. chegaram os cinzas luminosos das nuvens e do mar, espuma contrastante, o sol que espreita, e eu a descobrir a eternidade nesse limite inexistente que é a linha do horizonte, quando as cores do céu se entrelaçam com as do mar. outono-me também eu no desvario da estação e permito-me ser não sendo, não sendo ser tudo, e tê-lo não o tendo nunca. como o vento, como a chuva, como os cinzas, rodopio e indefino-me quando me querem definida, desvario-me e enlouqueço-me. 












4 comentários:

  1. Fiquei presa ao rodopio das tuas palavras. Gosto de vento que empurra.
    :)

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  2. Pensei em si hoje quando a chuva chegou, em como ela a faria feliz.
    ~CC~

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    1. obrigada, CC. precisava tanto de a apanhar na cabeça, e não consegui, ainda :)

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