quinta-feira, 21 de setembro de 2017

dias e dias






há dias e dias, pois há. e hoje é um dos outros dias. 
chego ao talho e estão os três funcionários, duas mulheres e um homem, a atender uma senhora. três para uma, portanto. eu, como sempre cheia de pressa, tão cheia de pressa que ando sempre, que faço as encomendas sempre de véspera, às vezes com várias vésperas, mas hoje ia ainda com mais pressa do que o costume, e deparo com os três, que quanto menos há para fazer, menos apetece fazer, com ar molenga, mesmo tipo songamonga, e parece que é moda dizer 'tipo' isto ou 'tipo' aquilo, que quer dizer que é, mas não é, mas é.
- vamos lá andré! está a dormir ou é a falta do barrete - o andré estava sem barrete - que deixa que as ideias lhe fujam todas do cérebro e não ata nem desata.
- estou à espera, dona ana, para acabar de servir esta senhora - ora a senhora já estava a ser atendida pelas outras duas, também.
- ora andré... em vez de ter as mãos aí penduradas ao lado do corpo, trate de me despachar.
- hoje a senhora...
- pois é andré. recebe o seu ordenado quer trabalhe, quer não, pois é? dinheirinho garantido ao final do mês deve ser bem bom, e férias pagas e tudo. se ganhasse conforme o que trabalha, passava-lhe o sono no instante.
o andré passa a mão na testa, esfrega a nuca.
- quer que lhe leve os sacos ao carro?
- não, andré, obrigada. se tivesse que esperar por si, nem amanhã lá estava.
as funcionárias riam-se e o andré olhava para mim, calado.









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