quinta-feira, 27 de julho de 2017

a música











    pouso o olhar no mar, manso, com a tonalidade própria do marinho que é, e a que cheira. da linha do horizonte eleva-se um nevoeiro escuro dando a sensação de um outro mar, acima deste. inútil paisagem, sussurra-me ao coração, com ironia, aquela parte de mim que armazena as memórias e que desperta num som, num aroma, num toque, num paladar, no simples facto de estar viva. para quê tanto mar, para quê... se não te prolongas como antes, murmura-me. pode ser que não venhas mais, que não venhas nunca mais, continua outra eu a azucrinar a eu que passa, impávida, na marginal. de repente toda eu sou a música que desperta cá dentro.

aprendo novamente a caminhar, manca. nos dias que eu trazia em mim, era a partilha que lhes dava a graciosidade, a alma. agora, neste hiato em que as tonalidades do mar não transbordam de mim, eu tento, com custo, não construir diques ao meu redor, que me tornem árida. 













4 comentários:

  1. Igualzinho ao mar que estou a ver agora. Será o mesmo? Beijinho ana

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  2. Mar tão frio, para um coração que tanto me aquece.
    Beijo-te Ana bonita :)

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    Respostas
    1. Muito obrigada, Vânia :)
      É verdade. O mar do norte é bem frio...

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