quinta-feira, 1 de junho de 2017

das oportunidades












aconchego o edredon por cima e à volta do corpo moreno, enorme e peludo do rapaz. de fora fica a cabeça de onde uns olhos escuros semicerrados, dão sinal de querer continuar a dormir. por entre a barba negra, os lábios carnudos sorriem. 'queres continuar a dormir?', pergunto, sabendo já a resposta. ele diz que sim com a cabeça.

eu sinto que estou a ter uma segunda oportunidade para ser mãe, agora, sem a canseira das fraldas, dos colos, das papas e das sopas. até aqui, embora sempre presente em casa, estive sempre ausente, absorta em tudo o que tive e tenho para fazer, para que a vida corra, e, não é raro o dia em que pense que lhes dei pouco carinho, carinho de toque, de beijo, de afago, carinho manifestado, para além de sentido. mas agora, eles todos já com mais de duas dezenas de anos, rodeiam-me com os seus braços, pousam as cabeças rapadas nos meus ombros, arranham-me as bochechas com as suas barbas densas, e, nem sei se eles me fazem menina, se eu os tenho meninos, outra vez, nem me interessa saber, fico é com uma profunda gratidão que até as minhas mãos tremem enquanto escrevo isto.









4 comentários:

  1. ...que seja sempre assim essa vossa cumplicidade. Nos dias de hoje é uma raridade haver este carinho cheio de tudo e com tudo e sem tamanho.
    Vivemos numa sociedade vazia de valores nobres.Às vezes também falho como filha, não sou perfeita nem para lá caminho[risos], mas hoje os papéis inverteram[se] e para além de ser filha também tenho que ser mãe da minha mãe, papel nada fácil, mas sou grata apesar de tudo.[e já me alonguei de mais, sorry]
    Que nunca [te] falte afectos.
    Beijocas larocas

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  2. que beleza, Ana.
    arrepiei-me de tão bonito.

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