sábado, 10 de junho de 2017

a mulher doente











a mulher doente, sentada ao meu lado, não para de falar ao telefone. fala com a mãe. sossega-a, diz-lhe que não tenha medo, que nem ela mesma tem, que tem consultas marcadas com médicos convencionais para ouvir outras opiniões, e isto e aquilo de assuntos práticos.
quando desliga, pergunto-lhe eu como se sente. embora tenha emagrecido, sente-se cheia de energia, diz-me, e de esperança. e fala, fala, fala. eu ouço, ouço, ouço. as palavras dela nem sempre encontram o que eu sinto dela, mas não lho digo. o fio de esperança a que ela se agarra é tão frágil que só me cabe tentar fortalecê-lo.
ela conta que cada momento que vive, é intenso, é grande, é delicioso. eu, vou pensando no percurso dela, em tudo que através do seu sofrimento me foi dado conhecer, em tudo o que, por ter conhecimento, me torna responsável, e por ser responsável não ficarei impune. aquela mulher, pequena, frágil, inconstante, ressentida, inquieta, é um mestre, uma escola.












2 comentários:

  1. Cada "outro" pode ser uma escola se quisermos ler, aprender...Se não quisermos, nada se passará.
    ~CC~

    ResponderEliminar