domingo, 7 de maio de 2017

me day












acontece quase todos os dias, quando eles estão cá. enquanto cozinho, o mais velho rodeia-me com um abraço e pousa a cabeça no meu ombro. é complicado cozinhar nestes preparos, mas eu encosto a minha face, ao cabelo dele, cortado com pente dois, e tento equilibrar os utensílios para não perder o mimo que ele quer dar e receber e que eu arranco de dentro de mim para aquele homem-menino de vinte e três anos, muito, mas muito mais alto do que eu. 
quando encontra uma vaga, e quando está cordial com o mundo, o mais novo, de vinte anos, com uma barba de tal maneira cerrada e encaracolada que eu não posso dizer aqui o que lhe chamo, vem pedir um abraço longo e apertado, encostando a cabeça no meu ombro. então eu alinho o meu coração com o dele, e, naquele contacto manso, tento que do meu peito, passe para dentro do peito dele, toda a tranquilidade possível. só quando me diz que está melhor, desaperto os braços abençoando-o em silêncio.
o do meio, tão igual a mim por dentro que até me confunde, demora a mão dele entre as minhas omoplatas, removendo vidas de peso de cima de mim, e insiste em tirar-me trabalho das mãos para que eu descanse. a mim basta-me que ele mantenha as mãos nas minhas costas, com aquele calor que ele transmite mas que não é ele. tem vinte e um anos e é a pessoa mais sonhadora e solidária que conheço, e, enquanto escrevo isto, pousa a testa no meu ombro e eu penso naquela música que diz que This world was never meant for one as beautiful as you.

eu acho que nunca fui uma mãe carinhosa, não digo aos rapazes o quanto os amo, passei a maior parte a executar tarefas, e durante a maior parte da vida deles, senti-os distantes, acomodados. agora eles cresceram e tornaram-se assim, como podes ler em cima, e eu acho que é uma prenda de deus e agradeço-lhe por isso.













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