sábado, 6 de maio de 2017

incapacidade









o homem sentado em frente a mim falava, falava, falava. eu não estava ali enquanto olhava para ele e respondia a uma pergunta ou outra. de vez em quando sei que ele pedia desculpa por falar tanto justificando que era para compensar o meu quase silêncio, e ria-se. eu, ia sorrindo, não era preciso muito mais para que ele estivesse bem. a certa altura ouvi a palavra índios e prestei atenção, talvez pudesse acompanhar a conversa naquela altura, mas não o fiz. seria estranho que de repente começasse a dissertar sobre práticas indígenas. de vez em quando também frisava que para ele era imprescindível dormir comigo, dormir mesmo. expliquei-lhe que não gostaria, as minhas noites são mal dormidas, tu sabes, e os pesadelos nem sempre respeitam as horas que passo acordada.
tentei ser normal, apesar de tudo, mas é aqui, em momentos como este, em que tenho por companhia o som das aves que se recolhem e ainda consigo ver o verde das árvores lá fora, que me sinto verdadeira. podia ter conversado sobre os grupos terroristas, os países africanos ou os do médio oriente, a pirataria na somália que é um tema que me toca especialmente, vá-se lá saber porquê, poderia até falar da minha busca por não sei o quê espiritual, mas não fui capaz. não sou.









2 comentários:

  1. Também temos direito ao silêncio, não é?

    Bom domingo, ana, e feliz dia da mãe. Beijos

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    1. e necessidade absoluta dele.
      obrigada, deep. bom domingo.
      beijo

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