sábado, 18 de fevereiro de 2017

por dentro








a mulher entrou nos olhos dele sem que ele o soubesse. tão profunda e intensamente que ele sentiria onde quer que estivesse. e ficou ali. já que tinha tido a coragem de entrar, deixar-se-ia ficar, aninhada, apavorada com a possibilidade de tocar-lhe as vontades. 
ele partiria de qualquer forma pois tecera o amor para aconchegar outra mulher, delicada e calorosamente. 
pior do que não tê-lo, seria vê-lo partir. então eternizava palavras com que cobria o corpo e viajava sozinha por mundos só dela.
de manhã, a vida tornava a cair sobre os seus ombros. seria domingo. ela caminharia à beira-mar numa conversa muda com iemanjá para que a livrasse daquele querer. os pés pisariam as conchas partidas do areal para lhe lembrar que ela existe para além dele.












10 comentários:

  1. Respostas
    1. Tinha me esquecido das estrelaa, e nesses dias a areia dói nos pés.
      (salvaste-me de um pesadelo daqueles...)

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  2. ilmatecuhtli, tu és a criadora das estrelas, a tecelã dos universos novos... em ti tens as quatro forças fundamentais :) um pesadelo nã te faz mossa!

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  3. Quando não há mar por perto para afastar os quereres?

    A primeira parte lembrou-me Blimunda... ainda que ocorreu que o amor deste homem e desta mulher pudessem ser eternos.

    Bom domingo, ana. Bj

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  4. às cinco da manhã somos todos crianças. e o pesadelo teimava em voltar de cada vez que adormecia. depois esse passou e vieram outros em que a maré enchia a partir de cima e vertia, das rochas altas, para a areia, onde eu e uma criança, tentavamos fugir...

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  5. deep, quando não há mar, ando descalça e peço à terra que me leve os quereres sem principio nem fim.
    (nem sempre resulta, como podes ver :))

    bom domingo , aí, nas terras altas :)

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  6. Ana, quando estás perto do mar ficas tão imensamente bonita :)

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  7. a minha alma fica feliz com o meu corpo, Laura.
    bom domingo :)

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  8. tens de aprender a prever as marés inversas... os pesadelos são isso, oportunidades de aprender a grande arte do escape, ou da batalha :) no caso das marés, foge.

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