domingo, 8 de janeiro de 2017

novelos






sentia que as vísceras formavam novelos dentro de si. estava retesa por dentro. todo o dia tentara apanhar bolas de sabão, argolas de fumo, pedaços de nuvens. tentou até alcançar um arco-íris com a ideia de que faria um vestido com ele, para que reparasse nela.
mas o dia passou e ela soçobrou à inutilidade do esforço que a tinha desgastado, comprimido a alma de tal forma de encontro ao corpo que perdera a capacidade de voar e as gaivotas escarneciam dela, desafiando-a.
então à noite, enrodilhou-se no seu corpo nu e forçou o sono. no dia seguinte voltaria a ser alegre e leve e faria uma meada com aquele elástico que a prendia a um sonho e no qual estava sempre a tropeçar, sobretudo quando fazia sol e as cores brilhavam mais.








6 comentários:

  1. os teus novelos são tão belos que até tenho medo de os desenovelar com um comentário...

    ResponderEliminar
  2. são novelos enfeitiçados emaranhados por dentro...
    bom dia para ti :)

    ResponderEliminar
  3. Ana, dás-me um novelo desses para fazer uma túnica de verão?

    ResponderEliminar
  4. acautela-te, Laura, vais tricotar as tuas entranhas...

    ResponderEliminar
  5. sou cozinheira que arrisca, mesmo não sabendo cozinhar :)

    ResponderEliminar
  6. gosto muito de ti, Laura...não...:)

    ResponderEliminar