domingo, 4 de dezembro de 2016

porque amanheceu um dia de sol























hoje fui tomada pelo medo outra vez, um velho medo conhecido. o medo de ter medo, o medo de que o corpo falhasse. 
tudo isto porque amanheceu um dia de sol, e eu sei que me faz falta, o rio e o mar e as árvores e o vento e o som que fazem as folhas secas das árvores ao serem pisadas pelos meus pés e tocar nos troncos  e falar com eles lá de cima e gravar tudo no meu olhar para que quando olhares para mim não seja só a mim que vês mas todos os lugares por onde passo e que respiro.

então a luta contra o medo é tão grande que eu fico cansada, pois eu conheço-lhe as manhas todas, as justificações, os avisos sarcásticos, a manipulação. e sei também todas as estratégias para o combater, para o ultrapassar. comprimidos em tudo o que é bolso ou bolsa, o telemóvel à mão, distrair o pensamento, saber que aquilo passa, sempre passa. e enquanto escrevo isto, o coração acelera e bate na garganta, os ouvidos entopem e os apitos aumentam, e, embora eu saiba que passa, porque passa, eu sinto.

também sei que isto volta quando eu estou segura de que o ultrapassei. como se estivesse à espreita, para me apanhar desprevenida, como se me quisesse fazer um exame, a prova dos nove. 
e vem de formas diferentes. e quando eu estou mais distraída. 
já me deixou prostrada na rua, com medo de atravessar para o outro lado, medo de espaços sem muros, sem limites, tacteando paredes à procura de apoio, raspando a mão em muros de pedra para que a dor me distraísse, percorrendo auto-estradas pela berma, pedindo ajuda aos anjos para chegar, e a chegar, de cama, com crises de vertigens, a vomitar para um balde, com o peito a chocalhar de tanto batimento descompassado e acelerado. 
e depois, ele, o medo, ri-se, quando, exames atrás de exames mostram que tecnicamente (dirias tu) está tudo bem comigo.

mas depois apareceu-me isto, e os minutos 8 ao 10 disto, fizeram-me regressar a mim, a parte do que eu devo ser.


[e isto é uma coisa sobre a qual eu não gosto nada, mesmo nada de escrever, mas tenho que o fazer, pois escrever, é, muitas vezes, exorcizar. só tenho pena de não ter jeito para metáforas, porque ia ficar muito bonito]











14 comentários:

  1. Coisas que sei:
    sabes viver com isso
    Sabes que escrever é bom
    Não sabes, mas eu digo-te, nem todos os textos sem metáforas são feios ;)

    Vem aí uma bela semana :)

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  2. O medo vem, o medo vai. É uma luta constante que se tem de ganhar, sempre. Beijinho ana

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  3. esse medo parece um vício... mas escrever é como tu dizes, exorcismo :) força ai!

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  4. Somos tantas vezes tão pouco agradecidos. Somo-lo quando queremos mais e nos mostramos insatisfeitos com tudo. O vídeo e as palavras da Bethânia mostram-nos que temos de relativizar, agradecendo as coisas boas e simples que estão ao nosso alcance.
    que
    O teu texto, ana, lembrou-me um livro (pequenino) do Sérgio Godinho fala sobre os medos, entre eles o medo de ter medo - O pequeno livro dos medos.

    Fica bem. :)

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  5. é verdade, conta corrente :)
    já quanto às metáforas...olha, ficava mais bonito, sim ...
    boa semana!!!

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  6. é verdade, Maria. sabes, confundo-os um bocado com as hormonas, flutuações e tal... :)
    beijo

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  7. Hurican, achas que uma desintoxicação resultava? convoca aí os deuses, se não te importas...

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  8. deep, obrigada!
    vou procurar esse livro, e tratar de ir ao mar, não para pedir, para agradecer :)
    beijinho e boa segunda!

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  9. Ana, tens que o fintar, o medo.
    chapinhar e calcar com força, as folhas.

    boa semana.


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  10. obrigada, Laura. eu sei. a teoria sei-a toda :)

    boa semana!

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  11. Conheço muito bem o que descreve, andei dois anos a sentir algo muito semelhante em várias circunstâncias, às vezes e aparentemente sem nenhuma razão. Eu chamava-lhe ansiedade em vez de medo porque o medo é para mim uma coisa mais concreta. O medo era sentir aquilo, aparecer sem lá de onde, a qualquer momento. A explicação que me deram mais plausível foi a proximidade da menopausa mas não sei se me convenceu. Agora, inexplicavelmente ou talvez não, parou.
    ~CC~

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  12. este medo é precisamente isso que descreve, CC. a mim, acontece-me há tempo demais para ser a proximidade da menopausa, embora, a taquicardia possa sê-lo.
    ainda bem que parou, para si.´
    agradeço as suas palavras. 'falar' alivia e relativiza.
    beijo

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  13. convoquei a ala norte, mas parece que já nã precisas :)

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  14. Preciso preciso!!!!
    (Disfarço muito bem)

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