domingo, 18 de dezembro de 2016

acordo




















Fez um acordo com ele:

Descansar
De cada vez que se sentir dispersar, regressar à terra, ao momento presente
Todos os dias deixar-se dispersar durante algum tempo
Caminhar à beira-rio ou beira-mar 10 minutos por dia
Em vez de repudiar a dor ou o desconforto, tentar primeiro perceber o que lhe vem ensinar ou alertar, e integrar
Começar a distinguir as vozes dentro da sua cabeça
Não dar espaço ao medo

- tudo isto tu já sabes, mas tens andado a fazer de conta. Agora apanhas no pelo. – diz o homem rude, enquanto procura peças de automóveis no olx – eu sei que não é fácil para ti viveres aqui, relacionares-te com as pessoas. Tu és muito sensível e és magoada, depois fechas-te, como uma ostra. Então nunca estás presente, conversas e falas e respondes, mas nunca estás cá. Por isso esqueces tudo. Agora, quando sentires que te ausentas, regressas, esta é a vida que te propuseste vir viver e é aqui que tens que estar.

Ela olha para ele enquanto desliza o dedo no ecrã. Aquele homem atarrecado tem curado mulheres – só mulheres – diz ele – os homens não querem nada comigo. Ou então ficam logo bons e não voltam mais, como o outro que era impotente, se não tivesse ficado bom, tinha cá vindo e dito ‘ó amigo, olhe que isto afinal…’ – e ri-se. Quando se ri parece Garfield, o gato. – o que eu faço vale milhões, olha o que eu te digo, e em vez disso ando aqui a contar tostões, a ver como hei-de pagar as contas.

Ele gosta de falar com ela. Entendem-se. Às vezes ela chama-lhe mafarrico, ele chama-lhe belzebu.

Nunca lhe parece que a vida que vive possa ser dela, talvez por isso escreva na terceira pessoa.








4 comentários:

  1. às vezes entro nos teus enredos e fico lá sentado num canto a ouvir...

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  2. hoje nã vou conseguir ficar e escrever pela calada da noite... mas volto depois para ouvir e alimentar os pássaros

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    1. Quando voltares para alimentar os pardais, rega as violetas, por favor. Não tenho tempo e as flores começam a murchar.

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