domingo, 18 de dezembro de 2016

A mulher que vivia em Maria





















A mulher que vivia em Maria podia ter sido salva se tivesse sido amada pelo homem que habitava o António. Mas o António só usou o corpo quando se deitou em cima de Maria. Então a mulher que vivia em Maria continuou a definhar até ser apenas um grito quase imperceptível, pedindo ajuda. 

Quando Maria percebeu os apelos da mulher dentro de si, já tinha esquecido a linguagem da terra quando chama as raízes, era lhe estrangeiro os apelos das estações pedindo renovação, tinha-se estacionado no inverno que permitia hibernação, e deixara de ouvir o mar no vaivém das suas águas fazendo amor com as rochas e com a areia.
A mulher que vivia em Maria estava tão fundo tão fundo, que só um renascer a podia salvar. Nem António a conseguiu ver, e animalou-se nela naquela noite, de onde Maria saiu despida de si.
Agora, é frequente ver-se Maria sentada junto a uma fogueira, costurando cinzas com estranheza do fogo. Nos olhos vive ainda uma memória, longínqua, de uma sabedoria antiga que talvez a salve.
António nunca percebeu que ela se ausentou. Quando lhe bate à porta, Maria encanta-o com esquecimentos para não o ferir com a sua incapacidade.

10 comentários:

  1. Gosto muito da sabedoria antiga que te leio nas entrelinhas...

    Um domingo feliz, ana :)

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    1. Vivo a vida à procura dela, Miss.

      Bom domingo, todo azul por aqui.

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  2. Maria vai descobrir que ela é a heroína da sua própria história. Salva por si mesma. :)

    Deixo-te um beijo, Ana. :)

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  3. sinto que falta por ai chuvinha boa, ou é impressão minha?

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  4. eu acho que Maria sabe disso, Alaska :)

    envio-te outro beijo, menina bonita.

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  5. está uma secura que dá dó, Hury. até dou choque...

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  6. Salva-se sempre quem, por uma noite que seja, tem o dom de sair de si próprio.

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  7. choque isso é da temporada electrizante... nozes, anda com nozes no bolso que isso passa :)

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