quinta-feira, 17 de novembro de 2016

tudo morto, uma ova








podes entrar que está tudo morto, diz-me a dona da peixaria, enquanto se ri. toda a gente sabe que não consigo assistir à agonia do pescado na bancada da loja. riem-se de mim, pois o atractivo do estabelecimento é a frescura do peixe, do peixe vivinho à espera da faca, moribundo em cima do gelo. exactamente o espectáculo que eu não suporto.
então a dona do sítio garante-me que o linguado está morto, que posso levá-lo, e levo. ao lado, uma senhora questiona sobre a tenrura de um polvo, enquanto o dono do dito lhe diz que é de garantia. uns dias em água com sal, depois o congelador, e vai parecer manteiga. não sei, penso eu, se dá para barrar no pão, que depois desses preparos todos o bicho deve é estar podre. ao lado do animal, está outro da mesma espécie, e a cliente está indecisa entre o cinzento e o castanho, depois de ter reparado na expressão desconfiada da dona da bancada, quando o, por sinal marido, garantia as garantias à freguesa.
pois que ia pensar, disse a cliente, arqueando as sobrancelhas para a entendida, em tom de interrogação. depois digo-lhe, sussurrou a consorte do pescador. deixe-o morrer, que depois telefono-lhe. 
eu, saí dali a correr com o linguado na mão, sem saber se quem está para morrer é o polvo ou o marido da dita.








6 comentários:

  1. eu também não suporto ver peixes moribundos.
    nunca me esqueço de um sobrinho meu, bebé, a chorar porque tinha um peixe de olhos esbugalhados, no prato, e lhe disseram que tinha de o comer.
    como eu o entendi, nesse dia...

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  2. sabes, Laura. cada vez me custa mais comer animais. estou feita...
    também entendo o teu sobrinho, perfeitamente...

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  3. atão já nem conto a história dos olhos de peixe...

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  4. eu não quero saber da tua mania de comer os olhos dos peixes. nem quero ouvir...

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  5. já tinha dito que gosto de comer os olhos dos peixes?

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