quinta-feira, 17 de novembro de 2016

o ar hoje sabia a azul




























tão habituada que estou ao silêncio, 
que fico atordoada com a pessoa que, 
frente a mim, 
dispara palavras e ideias em todas direcções.


esta manhã o ar estava tão bom de respirar, que eu saboreei lentamente cada respiração, como se o ar tivesse sabor, só depois me disseste que o ar sabia a azul, e eu percebi.

o corpo está-me cheio de tristeza, e foi assim sem saber como. primeiro um cansaço, depois uma distracção, uma palavra à toa, e de repente as mãos. acho que a tristeza começa pelas mãos a não quererem fazer nada, então, o corpo vai todo num arrasto, num esforço, e os lábios curvam, e as pálpebras tombam, e o peito encolhe e de repente parece que uma aranha me embrulhou na sua teia, teia de tristeza.

então eu lembro-me do ar da manhã e finjo que durmo, e tudo dentro de mim procura o ar com sabor a azul. mas há dias em que eu não me basto, então olho à volta, mesmo com os olhos fechados, e tento abrigar-me dentro de mim. nem sempre consigo.










7 comentários:

  1. Os dias com sabor a azul quase sempre nos fazem sair de dentro de nós. Sabem bem :)

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  2. lembro-me daquela música que se chama felicidade do Vinicius, e que começa assim:
    Tristeza não tem fim
    Felicidade sim

    A felicidade é como a gota
    De orvalho numa pétala de flor
    Brilha tranquila
    Depois de leve oscila
    E cai como uma lágrima de amor

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  3. ou entrar dentro de nós :)
    bom dia Maria!

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  4. gosto mais, do mesmo:

    É melhor ser alegre que ser triste
    Alegria é a melhor coisa que existe
    É assim como a luz no coração

    (manda-me chuva, Hurican... eu prometo-te uns sonhos...)

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  5. ou esta:

    "vai, minha tristeza
    diz a ela
    que sem ela não pode ser".

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  6. Laura,

    "a minha alegria é o aroma de tangerina nos dedos,
    comer aos gomos a paisagem
    e limpar depois
    a boca
    à manga do espanto."

    (não é nada meu responder a comentários com poemas :))

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