então encontro a mulher à saída do supermercado. aproxima-se da janela do meu carro, de onde lhe aceno com satisfação, esquecendo-me de fingir que não a vejo, e pergunta-me, com a cabeça inclinada, sobrancelhas arqueadas, e sorriso de quem espera um desabafo, uma lamuria, como está o meu filho. que está bem, respondo, e só nesse momento percebo que ela espera que me queixe, que me lamente da vida porque o rapaz desistiu da faculdade e eu não consegui impedir.
de sorriso aberto, ainda adianto que desenha e escreve dia e noite, e calo-me, com beijinhos para todos e até qualquer dia.
lembro-me quando ele era criança, ainda no primeiro ciclo, a professora deu-lhes a ouvir a 'pedra filosofal', e ele pequenino, teria sete anos, que já aí não gostava da escola, decorou o poema, cantava a canção, repetidamente. mais tarde, depois de sair da casa onde vivíamos com o pai dele, ele fechava-se no quarto a ouvir o 'muda de vida' dos humanos, tinha dez anos.
agora tem 21 anos e tem um sonho. as músicas que ouve não sei, mas sei que alimentam os seus ideais. enquanto eu pensava que ele estava nas aulas, na faculdade, ele estava na biblioteca a desenhar. só mo disse quando já era tarde demais para tentar impedi-lo, já tinham passados uns meses desde que faltava às aulas sem eu saber. todos os dias apanhava o metro no horário das aulas, e regressava ao final do dia.
criamos os filhos incentivando-os a lutar pelos seus sonhos, aí estamos todos de acordo. se os sonhos não forem lucrativos, se forem aparentemente inatingíveis, recua-se.
eu não fui capaz. dei-lhe asas. a mulher olha-me de lado, no parque de estacionamento, por eu permitir que o meu filho lute pelo seu sonho.
querida ana,
ResponderEliminartambém a minha nigga (que aprendeu a ler aos 4 anos e meio e antes dos 5 me leu, ela, o livro inteiro para adormecer) optou por não se inscrever de novo no 12º ano, prefere ir a exame(s). Sou a única pessoa com calma, diante desta situação. De resto, não admitiria críticas (já me chegaram) de ninguém. É francamente mais inteligente que a maioria dos professores que teve, e tenho dito :)
o caminho dela, será ela (ou já...) a fazê-lo.
gostei do 'querida' :)
ResponderEliminareu não ouço criticas, leio-as nos olhos. deves saber como é :)
beijo
poucos são os que levam isto em consideração, mas no fundo o que importa é que seja feliz :)
ResponderEliminaracho eu... que da vida nã entendo muito, dos outros e do que os outros pensam, ainda menos... espero que ele e tu sejam felizes, muitos felizes :)
Eu também espero que ele seja, hurican. Já eu tropeço muito no coração.
EliminarDorme bem.
(fechaste a caixa de comentários...)
Ainda fiz a faculdade no que queria. E adorei o curso. No 10° ano informei em casa que ia mudar de economia para letras. Deixaram-me ir. Diz a Universidade que queria. Quando acabei, não arranjei emprego na minha área. Não logo... o meu pai não me deu fui trabalhar e sou hoje... enfim tenho um emprego que detesto e onde sou bom. Mas detesto. Mudava hoje.
ResponderEliminarTenho 2 filhos. Esses vão trabalhar no que gostarem e quiserem. Eu ajudarei até que consiga.
Vocês as duas agiram muito bem. Parabéns pela vossa coragem.
Obrigada, conta corrente, muito.
EliminarÉ sempre tempo, sabe? Sempre...
apenas pudeste mostrar que era possível voar
ResponderEliminarpois sempre soubeste que tinham asas
Tens razão. Tu és poeta e vês mais longe.
ResponderEliminarObrigada:)
Beijo beijo
Que seja feliz é o que importa, o resto é acessório:)
ResponderEliminarespero que seja, mas procura a perfeição. sabes como é...
ResponderEliminarbeijo, vizinha, para ti e para a Julieta :)
Olha aqui a Julieta
ResponderEliminarhttps://www.youtube.com/watch?v=YH5_4osOZK8
(que o teu rapaz encontre algo que goste verdadeiramente de fazer. agora olhando para trás, acho que por vezes parar um pouco e pensar bem no que se quer fazer pode resultar bem melhor do que optar por percursos infelizes com profissões sem realização pessoal. Eles agora são diferentes, não temem o futuro)
Beijinhos :)
Eu também não impediria...É complicado, mas a escolha tem de ser deles.
ResponderEliminardepois vou chorar para o quarto andar, vizinha. prepara os lenços, o chá e as bolachinhas...
ResponderEliminar(será que não temem o futuro porque planeiam viver com os pais, neste caso a mãe, até aos 50 anos?)
beijinhos e dorme bem, vizinha :)
sabes Luísa, de vez em quando penso que mais tarde eles poderão pensar que a mãe devia tê-los obrigado, que não tinham maturidade para escolher...
ResponderEliminarmas não sou capaz de impedir, nem de obrigar.
beijo